Thursday, January 11, 2007

o inicio de tudo e de nada

Enquanto mil e um rodopios são dados, e sorrisos mais, ela não sai do mesmo sítio, nem lhe sai o mesmo do pensamento. Ela não está ali. Deveria estar onde se sentisse bem. Aquela pista de dança não dizia nada, ou pelo menos agora.
-Marrianne dá-me um sorriso! Vá lá só um! Daqueles que eu gosto tanto de ver... quando passamos imenso tempo juntas a conversar e a rir sobre isto e aquilo. Detesto ver-te assim.
-Não podes fazer nada, Isabelle. Tu não podes fazer nada. Vai dançar... pelo menos tu tens companhia. – e ela baixa a cabeça como se quisesse esconder o olhos - Eu fico bem... descansa.
-Tu sabes bem que tens companhia... Está ali a olhar para ti, mesmo do outro lado da sala. - sussurrou-lhe a irmã.
Isabelle foi-se embora deixando a irmã perturbada, demasiado até. Ela foi-se embora porque, para além de uma nova música ter começado, sabia que era melhor deixar a irmã entregar-se aos pensamentos e, sabia muito bem que a sua irmã iria fazer o mais acertado.
Marrianne estava tão abstraída de todo aquele ambiente que não se e iria distrair com todos aqueles passos.
Ela não podia aceitar tal companhia, nem o queria fazer. Não queria ir contra tudo o que lhe disseram, embora fosse esse o seu impulso.
Um impulso. Nada tinha sido se não fosse um impulso. Ela sabia o tão bem, no entanto, não se tinha arrependido.
Levantou-se da cadeira e olhou-o. Ele lá continuava a olhar para ela com a mesma expressão de sempre, mas ela com o seu olhar desprezou-o, virou costas e foi à varanda.
Como ela gostava de ir à varanda quando a noite já tinha caído. Aí sim se sentia bem, a olhar o mundo. E ali não havia olhos alguns que a mirassem. Era só ela, as estrelas e a lua!
Marrianne não queria voltar para dentro de maneira alguma. Resistiria ao frio se a deixassem ali ficar entregue ao nada. Ao nada e a si própria, como tanto gostava de estar.
-Marrianne...-foi sussurrado não demasiado baixo, mas sim de maneira que ela pudesse ouvir sem se assustar, da maneira certa para que soubesse que havia alguém ali.
Ela sobressaltou-se e uma lágrima desceu-lhe da cara sem ela querer, sem ela se dar conta até. Sabia muito bem quem ali estava mas agora não se podia escapar de quem... lhe está preso ao pensamento. Em todas as suas reflexões surge o seu sorriso, os seus olhos... Quanto ela queria pensar noutra coisa... quanto mais tentava menos conseguia! Limpou a malfadada lágrima da cara, e respondeu:
-Que fazes aqui? Eu queria…
-Querias-me evitar a noite inteira – replicou depressa – mas desculpa, não podia deixar que a noite acabasse para falar contigo.
-Diz de uma vez o que queres! – o chão parecia tremer, ou melhor, as suas pernas, queria cair… mas não podia fazer, nem o iria fazer, e a única coisa que tremia em toda aquela situação era a sua voz.
- Tens frio? Aqui está uma ventania que não se pode… Não tarda começas a tremer. – disse com um sorriso nos lábios – vem, vamos entrar. Danças comigo?
Ela estava mais com surpresa com tanta consideração, mas estava determinada a recusar qualquer convite, toda essa diferença nele era estranha, demais até. O frio não a incomodava, nem o frio nem os ventos de Abril . Nem havia qualquer vontade de dançar…
-Seth, obrigada… Mas hoje nem sou boa companhia para ninguém e nem sequer me apetece ver ninguém. E eu estou bem aqui sozinha…
- O teu problema sou eu… eu sei! És mais transparente do que a água Marrianne. –e então Seth passa-lhe a mão pela cara.
-Pára! Vai-te embora!
-Tu tens a certeza que me queres longe? Tens mesmo a certeza? Eu gosto tanto de enrolar ainda mais o teu cabelo, gosto de brincar com o teu cabelo…
-Tu gostas de brincar é comigo! De me emaranhares as ideias, e entrelaçares as vontades!
E o silêncio caiu, pesado e insuportável, nenhum deles conseguia olhar para o outro… A verdade custa assumir… E a ele custava tanto!
-Tens razão, eu gosto de brincar contigo… Aliás só contigo é que eu posso brincar…
-Ninguém mais te deixa brincar não é? Mas desculpa não sou nenhum joguete, muito menos para alguém como tu. - os olhos por pouco que não lhe choravam outra vez depois do que secamente disse. Estava desgastada, precisava de descanso… de paz – Não importa… nada agora importa. Não posso continuar assim. Que mais nenhuma palavra precise de sair da tua boca para mim, que nenhuma palavra tua possa em qualquer altura se referir a mim…
E tal como um vento de Abril ela desapareceu. Ele apenas estacou-se e ali e no pensamento dela.

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